Fim do maior boom do século: China anuncia o fim da era dourada do minério de ferro, sinalizando mudanças no mercado.
China encerra a era dourada do minério de ferro, impactando mineradoras como a Vale
Por mais de duas décadas, a China desempenhou o papel de motor do mercado global de minério de ferro, impulsionando preços a níveis recordes e transformando a commodity em uma das mais lucrativas do mundo. Com um setor imobiliário em expansão e foco em infraestrutura pesada, o gigante asiático gerou riqueza para mineradoras globais.
Agora, essa era de prosperidade está chegando ao fim. A economia chinesa sinaliza desaceleração, e o ciclo de alta que começou no final dos anos 1990, culminando em preços históricos em 2021, parece estar encerrado. Mesmo com incentivos fiscais recentes, o setor imobiliário não demonstra recuperação suficiente para reverter essa tendência, impondo incertezas a mineradoras como a Vale
Preços em queda e mudança de prioridades
Nesta quinta-feira (15), os preços futuros do minério de ferro na Bolsa de Dalian caíram para 751,5 iuanes por tonelada (US$ 104,38), o menor valor desde 24 de outubro. Essa queda reflete o enfraquecimento da demanda por aço e o aumento dos estoques nos portos chineses.
De acordo com o colunista Javier Blas, da *Bloomberg Opinion*, o preço do minério de ferro, que chegou a US$ 220 por tonelada em 2021, já caiu para menos de US$ 100 em 2024. Essa desvalorização acompanha a transição da China para um modelo econômico mais focado em serviços e tecnologia, reduzindo investimentos em infraestrutura pesada e construção civil.
Estudos da Mysteel indicam que o consumo de aço na China atingiu seu pico entre 2020 e 2024. A perspectiva de recuperação é limitada, sugerindo que o mercado se ajustará a um novo perfil de demanda.
Oferta global em expansão
Enquanto a demanda chinesa enfraquece, a oferta global cresce com novas operações na Austrália e na África. Segundo o Macquarie Bank, o mercado caminha para um dos maiores excedentes de minério de ferro já registrados, o que deve pressionar os preços até 2028.
Esse excesso é especialmente desafiador para mineradoras menores, que operam com custos elevados. Empresas localizadas no Brasil, Índia, Ucrânia e África do Sul podem enfrentar dificuldades significativas, incluindo fechamento de operações, se os preços caírem ainda mais. Estima-se que até 200 milhões de toneladas, ou 12,5% do mercado marítimo global, possam ser retiradas do mercado nos próximos anos.
Gigantes sob pressão
As grandes mineradoras, como Vale, Rio Tinto e BHP Group, ainda mantêm lucros sólidos devido aos baixos custos operacionais. Na Austrália Ocidental, a Rio Tinto produz minério a US$ 21 por tonelada, garantindo rentabilidade mesmo com a queda dos preços.
No entanto, analistas alertam que margens de lucro podem ser severamente comprimidas se os preços caírem abaixo de US$ 50 por tonelada. Nesse cenário, o setor pode experimentar uma onda de fusões e aquisições, consolidando grandes players e abrindo espaço para novas operações, como as minas de Simandou, na Guiné, e Onslow, na Austrália.
Um mercado em transformação
Embora seja improvável que os preços ultrabaixos do início dos anos 2000 retornem, a era de lucros exorbitantes parece estar definitivamente no passado. As mineradoras terão que adotar estratégias mais eficientes para sobreviver em um mercado mais competitivo e saturado.
Para países como o Brasil, altamente dependentes das exportações de minério de ferro, o impacto pode ser significativo. A Vale, em particular, enfrentará o desafio de se adaptar a um ambiente onde eficiência operacional e inovação serão essenciais para manter a relevância e a lucratividade.
Conforme destacou Blas, o futuro do setor será moldado por cortes de custos, tecnologia e adaptação às novas realidades do mercado. O setor passará por consolidação ou uma transformação estrutural? Apenas o tempo dirá.
Fonte: Editorial Caldas Noticias.