Com 5 mil membros, PCC e CV dominam tráfico de drogas em Goiás
Facções travam guerra pelo controle do tráfico em Goiás; localização do estado – equidistante entre os extremos do País – favorece tanto rotas áreas quanto terrestres
A disputa pelo controle do tráfico de drogas em Goiás desencadeou uma guerra travada entre as duas maiores facções do país: Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV). A localização de Goiás, visto como um ponto logístico, conforme membros do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de Goiás (MP) ouvidos com exclusividade pelo Jornal Opção, é benéfica para o tráfico de drogas tanto terrestre quanto aéreo.
Buscando se firmar no estado, o PCC, por exemplo, chegou a formar uma “parceria” com a facção goiana Amigos do Estado (ADE). Atualmente, a facção paulista, que chegou em Goiás em 2015, é responsável por deter a maior quantidade de membros em solo goiano, na casa dos 2 mil. O cálculo é feito com base em investigações e interceptações telefônicas.
Em seguida, há a carioca CV, também na faixa dos 2 mil membros. A terceira organização mais volumosa é a ADE, com 1 mil membros apenas em Goiás. Esta última, inclusive, foi responsável por movimentar mais de R$ 1,2 bilhão com as atividades ilegais no estado em 2021. No mesmo ano, a facção goiana cometeu 30% de todos os homicídios registrados na terra do agro.
Juntas, de acordo com o Gaeco, o valor movimentado pelas três organizações ultrapassa “a casa dos milhares de milhões”. A atuação das organizações ocorre principalmente em Goiânia, Aparecida de Goiânia e cidades que fazem divisa com Mato Grosso e Distrito Federal.
Entretanto, cada facção tem a sua particularidade. O Gaeco afirma que os membros do PCC no estado não possuem autonomia para tomarem decisões sem o aval dos líderes, sediados em presídios de segurança máxima e em outras regiões como São Paulo, Paraguai e Bolívia.
Caso os membros quebrem o “estatuto do PCC”, que funciona de forma hierarquizada, como uma empresa, são punidos no “tribunal do crime”, organizado pelos “disciplinas”, responsáveis por aplicar as punições aos rivais e membros. Em alguns casos, a depender da conduta, o “réu” pode ser punido com a morte.
O CV, por outro lado, não é tão organizado, de acordo com o Gaeco. Cada chefe de estado tem autonomia para tomar as próprias decisões. O órgão, inclusive, diz que disputas internas e homicídios praticados entre os membros são comuns se comparados ao PCC. Em Goiás, a facção carioca é tida como a organização mais violenta.
11 facções com atuação em Goiás
Além das três maiores, Goiás também conta com “raízes” de outras organizações criminosas, como a brasiliense Comboio do Cão, mas com uma atuação inferior.
Em 2018, o MP mapeou 11 facções com atuação nos presídios de todo o Estado, com mais de 700 integrantes. Além das já citadas na reportagem, também foram apontadas a existência da Família do Norte (FDN), do Amazonas, e a maranhense Bonde dos 40 (B40).
A presença do grupo criminoso Matar, Vingar e Libertar (MVL), por sua vez, já havia sido citada pelo MP-GO no início de 2017, que indicou a sua presença na Unidade Prisional de Itumbiara. Outras duas facções que constam no levantamento da época, Primeiro Comando de Jataí (PCJ) e Primeiro Comando da Baixada (PCB), já tinham tido sua presença citada no relatório de inspeção aos presídios de Goiás da Corregedoria-Geral de Justiça do Estado de Goiás, de 2015.
Já o grupo criminoso Família Monstro consta em um mapa das facções no Brasil feito pela professora da Universidade Federal do ABC, especialista em sistema prisional, Camila Nunes Dias, já mostrando a ocorrência da facção em Goiás, juntamente com o PCC. A informação consta em um artigo publicado em uma revista em agosto de 2017.
São apontados também no levantamento facções intituladas de K2, PCO e Primeiro Comando de Anápolis. Atualmente, conforme membros do Gaeco, o número de organizações com atuação em Goiás é “impossível” de afirmar. O Jornal Opção também procurou a Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP), mas foi informado que “essas informações não podem ser passadas”.
O Gaeco garantiu que os grupos criminosos menores, em geral, são ligados aos grandes, que no país são o PCC e o CV. Caso optem por atuar de forma individual, eles são caçados e, normalmente, executados.
Chefões e inimigos morrem em Goiás
A atuação e a rivalidade entre facções pelo controle do tráfico em Goiás tem ficado mais evidente nos últimos meses. No dia 1º de dezembro, um idoso morreu após ser baleado na cabeça por um adolescente, de 16 anos, em Aparecida de Goiânia. O menor, membro do PCC, tinha como alvo dois integrantes do CV. Já em novembro, um avião carregado com drogas invadiu a fazenda do cantor Leonardo, em Jussara. Na ocasião, dois facionados morreram em confronto.
A presença das facções foi marcada, de fato, com a morte do piloto Felipe Ramos Morais, de 36 anos, em Abadia de Goiás (GO), no início de fevereiro. Tido como um traidor e um dos grandes inimigos do PCC, por ter levado dois líderes à morte, o ex-principal piloto da facção morreu em um confronto com o Comando de Operações de Divisa (COD) junto com outros dois homens. Na ocasião foram apreendidos três helicópteros e 100 kg de cocaína.
Mais recente, em outubro, outro nome de peso no mundo do crime foi morto em confronto com a Polícia Militar de Goiás (PM): José do Carmo Silvestre, mais conhecido como Pintado ou “Cangaceiro do PCC”, era o principal financiador da organização criminosa paulista. Ele teria reagido a uma abordagem realizada na BR-040, em Luziânia, momento em que foi atingido pelos policiais que revidaram os disparos.
Fonte: Jornal Opção.