Home office avança, mas o trabalho presencial ainda domina em Goiás
Mesmo abaixo da média nacional, Goiás registra salto no número de trabalhadores em formato home office e vê mudanças na economia e no cotidiano
O home office voltou a ganhar força em Goiás e tem mudado a rotina de milhares de trabalhadores. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de pessoas que atuam de casa subiu 3,3% no Estado.
Hoje, essa modalidade, home office, envolve 239 mil goianos. Mesmo com o crescimento, o índice segue abaixo da média nacional, que está em 7,9%. A diferença, porém, não impede que Goiás avance na direção oposta do restante do País.

Enquanto o Brasil registra redução no home office desde o fim da pandemia de Covid-19, Goiás aumentou a quantidade de trabalhadores que exercem suas atividades dentro do próprio domicílio. Em 2023, eram 6,4%. Já na média nacional, o recuo foi constante: 8,4% em 2022 e 8,2% em 2023, com nova queda neste ano. No cenário goiano, o movimento indica que alguns setores e profissionais têm se adaptado ao modelo remoto de maneira mais firme que no restante do País.
Mesmo com o avanço do trabalho feito de home office, a modalidade presencial continua predominante em Goiás. São 1,8 milhão de trabalhadores atuando no estabelecimento da própria empresa, o equivalente a 58,7%. Esse é um dos menores percentuais da série histórica iniciada em 2012, quando 64,2% dos ocupados trabalhavam presencialmente. O dado mostra que, embora o modelo remoto cresça de forma moderada, ele já pressiona a reorganização do mercado.
Além do trabalho feito na empresa, há 19,3% dos trabalhadores atuando em local definido pelo empregador, patrão ou freguês; 7,6% em fazendas, sítios, chácaras ou granjas; 3,7% em veículos automotores; e 1,7% em vias ou áreas públicas. Esse conjunto reforça que a dinâmica profissional em Goiás está cada vez mais diversificada, como presencial e home office.
Para a presidente da Associação Brasileira dos Profissionais de RH Goiás (ABPRHGO), Marísia Lorenzo, essa transformação não é recente. “O home office ele iniciou há 15 anos atrás, eu fui precursora do home office. Esse modelo muda a qualidade de vida de quem pode ter essa possibilidade do home office. Então nós estamos falando aí de TI, de comercial, cada um tem a sua especificidade de bater metas”, afirma.
Segundo ela, a produtividade também cresceu entre os trabalhadores que atuam de home office. “De acordo com 90% dos trabalhadores que utilizam o home office, houve sim um aumento da produtividade. Se a gente for pensar no número de 300 mil colaboradores que utilizam o home office, houve um aumento de 5% na produtividade. Isso varia de cultura, isso varia de empresa, isso varia da assertividade em escolher quem vai ser esse colaborador que vai ter a possibilidade do home office ou híbrido.”
Para Marísia, o segredo está no perfil de quem trabalha nesse formato home office. “O colaborador precisa ter disciplina. Se ele tem disciplina e estratégia, nada vai atrapalhar. Ah, tá, mas tem uma criança em casa. Não tem problema, hoje as pessoas entendem muito bem que home office tem criança que aparece, tem cachorro que late, tem a compras que chega. Então eu não vejo nenhum problema que não seja administrável de se ter um home office em casa.”
Mesmo assim, ela lembra que parte das empresas goianas ainda tem dificuldades de implementar o home office. “Mas falando em Goiás, onde a maioria das empresas são familiares e os donos são antigos, talvez eles tenham alguma dificuldade para fazer, os gestores, para fazer esse gerenciamento à distância. Vai da estratégia do gestor e volta a falar da assertividade do profissional que está tendo o híbrido ou home office.”
Para a especialista, o principal efeito positivo do modelo do home office está relacionado ao equilíbrio emocional. “O bem-estar é consequência do trabalho remoto ou híbrido. Eu volto a falar da qualidade de vida. Você imagina uma mãe que tem um filho de 3 anos e que ela pode trabalhar e ver o filho vendo televisão. Então é muito fácil vincular o bem-estar com o home office ou com o híbrido.”
A gestão das equipes, segundo Marísia, ainda passa por ajustes do home office. “Nem todas conseguem, tem que ter algum líder com também a experiência de home office para estar fazendo a gestão desse trabalho. Hoje existem várias formas de você controlar o home office através do colaborador, ele acessar o sistema e você ver o que ele acessou e que horas ele fechou, apesar que eu não concordo com essa rigidez. Dependendo da função da pessoa, é meta. Se ela está entregando, ela não tem que necessariamente estar logando no horário certo.”
Home office ganha força e muda rotina dos trabalhadores em Goiás
De acordo com Izamara Mendes, diretora do ABPRHGO, trabalhar de home office é uma tendência que a geração Z pretende permanecer. “O modelo híbrido, do meu ponto de vista, é um caminho que o mundo corporativo está seguindo de forma forçada. Por quê? Nossos profissionais estão crescendo, a gente tem um público de profissionais muito jovens ainda, que não tem essa rotina, que não vai aceitar essa rotina de acordar às 7 horas da manhã, entrar às 8h no trabalho, sair às 18h. Então, o nosso futuro vai ser forçado a seguir por um modelo híbrido”, afirmou.
A diretora ainda complementa ressaltando que essa modalidade, home office, ainda não é o caminho mais seguro para o futuro, porque o País ainda precisa de se capacitar para se ajustar a esse modelo. “Mas eu não acho que esteja o Brasil totalmente preparado para esse caminho a ser seguido. Por uma falta de tecnologia. Na verdade, a tecnologia está disponível, mas ela tem um custo caro para as empresas, então pode impactar significativamente a economia. A falta de preparo dos profissionais, porque estamos entrando com profissionais que talvez estejam no primeiro emprego. É o caminho, mas ainda tem muito a crescer, há muito a trabalhar, evoluir e capacitar. Capacitar tanto as empresas quanto os profissionais, os gestores que vão lidar com esse público, ainda precisa de muita capacitação. E aí tem muito a ser feito, tem muito a ser feito para colocar uma política clara, uma cultura organizacional rígida, para que tenha sistemas e metas claras e trabalhos bem definidos para esse público. O modelo híbrido é o caminho natural para o futuro, mas a sua consolidação depende de um preparo organizacional, cultural, gerencial e tecnológico”.
O economista Luiz Carlos Ongaratto reforça que os efeitos da pandemia continuam influenciando o mercado goiano, assim como o home office. Segundo ele, “o mercado de trabalho aqui em Goiás passou por uma reorganização importante depois da pandemia. A economia se recuperou, voltou a crescer e também teve uma mudança nesse perfil de vagas.” Ele explica que a demanda por tecnologia e serviços digitais aumentou e abriu espaço para formas mais flexíveis de trabalho.
Para o especialista, porém, o home office não é aplicável a todos os setores. “A economia goiana também, ela cresceu muito por conta das atividades de agronegócio, construção civil, serviços. Então, grande parte desses trabalhos, desses setores, eles não têm essa flexibilidade do home office.” Mesmo assim, ele aponta efeitos positivos, como a redução do deslocamento, a ampliação de serviços digitais e a evolução dos hábitos de consumo, cada vez mais online.
Ongaratto também observa mudanças no comércio, nos coworkings e no surgimento de trabalhos freelancers. Para o futuro, ele projeta desafios importantes para o home office: “Os desafios para os próximos anos vão ser essa inclusão digital, a cibersegurança, para permitir que esses trabalhadores trabalhem de maneira remota, a capacitação de trabalhadores para atender clientes de maneira remota também, que isso é importante, e o comércio vai se adaptando para ficar cada vez mais digitalizado.”
Com a combinação de escolaridade maior, tecnologia mais presente e novos estilos de vida, o home office segue se consolidando em Goiás. A tendência é que o modelo continue a crescer, mesmo que não avance no mesmo ritmo do período pós-pandemia. Para especialistas, o Estado vive uma transição que deve reorganizar, mais uma vez, o mercado de trabalho.
Fonte: O Hoje.com.

