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Entenda o que se sabe sobre a execução do delegado Ruy Ferraz Fontes em SP

Vítima atuou por mais de 40 anos na Polícia Civil e teve papel central no combate ao crime organizado, sendo pioneira nas investigações sobre o PCC.

O assassinato a tiros de Ruy Ferraz Fontes, ex-delegado-geral de São Paulo e secretário de Administração de Praia Grande, no litoral de São Paulo, gerou repercussão no Brasil inteiro. O caso aconteceu no começo da noite desta segunda-feira (15).

Fontes atuou por mais de 40 anos na Polícia Civil e teve papel central no combate ao crime organizado, sendo pioneiro nas investigações sobre o Primeiro Comando da Capital (PCC).

Ele estava aposentado da corporação e, desde janeiro de 2023, atuava na Secretaria de Administração de Praia Grande.

1 – Como foi o atentado

O caso aconteceu na Avenida Dr. Roberto de Almeida Vinhas, no bairro Nova Mirim, em Praia Grande (SP), por volta das 18h de segunda-feira. A perseguição ocorreu momentos após Fontes encerrar o expediente na Prefeitura.

Segundo imagens de câmeras de segurança, o carro de Ferraz Fontes foi perseguido por um veículo com criminosos. Em seguida, o automóvel da vítima bateu em um ônibus, foi atingido na lateral por outro e capotou.

De acordo com o boletim de ocorrência, a Guarda Civil Municipal (GCM) encontrou vestígios de disparo de arma de fogo próximo da Secretaria de Educação (Seduc), revelando que a perseguição já vinha acontecendo em ruas paralelas. A pasta fica entre as ruas Primeiro de Janeiro e José Borges Neto.

  • Informações iniciais da PM indicaram que o secretário perdeu o controle do veículo porque já havia sido baleado durante a perseguição, mas isso ainda será confirmado nas diligências.

Os criminosos conseguiram frear o carro e evitar uma nova batida contra o ônibus. Três homens desceram, enquanto um quarto envolvido, o motorista, teria seguido no interior do veículo. Dois deles, então, andaram até onde estava o ex-delegado-geral e atiraram nele com fuzis. Todos voltaram ao automóvel e fugiram do local.

Segundo o delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Artur Dian, os criminosos atiraram mais de 20 vezes durante o atentado. Segundo ele, foram encontrados carregadores de fuzil no local do crime.

O delegado acrescentou que os tiros atingiram diferentes membros de Ruy Ferraz Fontes. “Grande parte do corpo. Braços, pernas e abdômen. Foram diversos disparos”, explicou.

Gravações feitas por testemunhas mostram o desespero de quem passava pelo local do ataque. Uma mulher que estava na garupa de um dos veículos chegou a se jogar no chão, enquanto outro motociclista se afastou do local.

De acordo com a PM, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado e constatou a morte de Ferraz Fontes no local.

A Prefeitura de Praia Grande informou que um homem e uma mulher que caminhavam pelo local também foram baleados e atendidos pelas equipes do Samu. Eles foram encaminhados inicialmente para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Quietude.

De acordo com o município, as vítimas não correm risco de morte e foram transferidas para o Hospital Municipal Irmã Dulce, também na cidade.

Infográfico - Dr. Ruy Ferraz é morto a tiros em Praia Grande — Foto: Arte/g1
Infográfico – Dr. Ruy Ferraz é morto a tiros em Praia Grande — Foto: Arte/g1

2 – Quem era Ruy Ferraz Fontes

Ruy Ferraz Fontes tinha 64 anos e era formado em Direito pela Faculdade de São Bernardo do Campo, com pós-graduação em Direito Civil.

Ele teve passagens por delegacias especializadas como o Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), o Departamento Estadual de Investigações contra Narcóticos (Denarc) e o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).

Foi no início dos anos 2000, no comando da 5ª Delegacia de Roubo a Bancos, que iniciou investigações contra o PCC, prendendo lideranças e mapeando a estrutura da facção.

Naquele ano, ordens do PCC de dentro das cadeias determinaram uma série de ataques contra agentes de segurança pública devido à decisão do governo paulista de transferir as lideranças da facção, incluindo Marcola, para o presídio de segurança máxima de Presidente Venceslau, no interior do estado. A atuação de Ferraz Fontes ganhou destaque nesse período.

Ferraz Fontes depois foi o delegado-geral da Polícia Civil paulista entre 2019 e 2022, indicado pelo então governador João Doria, à época no PSDB. Neste período, liderou a transferência de chefes da facção para presídios federais, medida considerada estratégica para reduzir o poder do grupo dentro das cadeias.

O ex-delegado-geral também participou de cursos no Brasil, na França e no Canadá, além de ter sido professor de Criminologia e Direito Processual Penal.

Em entrevista a um podcast da CBN e do jornal O Globo que ainda não foi ao ar, o Ruy disse que vivia sozinho em Praia Grande sem qualquer proteção ou estrutura de segurança. A conversa aconteceu há duas semanas; OUÇA.

Ruy Ferraz Fontes foi executado a tiros em Praia Grande, SP — Foto: Prefeitura de Praia Grande e Reprodução
Ruy Ferraz Fontes foi executado a tiros em Praia Grande, SP — Foto: Prefeitura de Praia Grande e Reprodução

3 – Linhas de investigação

Primeiro suspeito do assassinato do ex-delegado Ruy Fontes foi identificado, afirma Derrite
Primeiro suspeito do assassinato do ex-delegado Ruy Fontes foi identificado, afirma DerriteA polícia trabalha, até o momento, com duas possíveis motivações para o crime:

vingança em razão da atuação histórica de Ruy Fontes contra os chefes do PCC;
e/ou reação de criminosos contrariados pela atuação dele à frente da Secretaria de Administração da Prefeitura de Praia Grande.

O PCC tinha planos para matar Ruy Ferraz Fontes desde o início dos anos 2000, segundo relatórios do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado de São Paulo (Gaeco) do MP sobre a atuação do PCC ao longo dos anos.

“[Ruy] foi uma das pessoas que prendeu o Marcola ao longo da história do PCC, que esteve passo a passo nesse enfrentamento ao PCC. Ser executado dessa maneira mostra, infelizmente, o poderio do crime organizado, a falta de controle que o crime organizado tem dentro do Brasil, dentro do estado de São Paulo. É uma ação extremamente ousada”, disse Rafael Alcadipani, professor da Faculdade Getúlio Vargas e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

“Estou em choque, fui o último a falar com ele [por telefone]”, disse ao g1 Marcio Christino, ex-promotor que atuou no combate à facção e seus chefes, no início dos anos 2000, com o ex-delegado-geral. Atualmente, Christino é procurador de Justiça.

Perguntado se Ruy falou se estava recebendo ameaças recentemente, Christino respondeu que “não”.

Ruy e a esposa foram vítimas de um assalto a mão armada em dezembro de 2023, no bairro Canto do Forte, também em Praia Grande. Conforme apurado pelo g1 à época, o casal tinha acabado de sair de um restaurante e estava a caminho de casa. Na ocasião, dois criminosos foram presos.

Segundo o promotor Lincoln Gakiya, que investiga o crime organizado, Ferraz Fontes escapou de um outro plano de assassinato em 2010. Ele relatou o episódio em entrevista à GloboNews. Segundo o promotor, desde 2006, o ex-delegado-geral era jurado de morte por membros da facção criminosa por ter sido o idealizador do projeto que concentrou todas as lideranças do PCC no presídio de segurança máxima de Presidente Venceslau.

4 – Próximos passos da investigação

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, determinou mobilização total da polícia, com a criação de uma força-tarefa para identificar os assassinos.

A SSP-SP determinou uma força-tarefa integrada das polícias Civil e Militar. Equipes do DHPP, Deic, Garra/Dope, Cercos da capital e do Deinter 6 estão em diligências contínuas na região com apoio de batalhões da Polícia Militar, incluindo o Batalhão de Ações Especiais de Polícia (BAEP) de Santos e equipes da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota).

“Estou estarrecido. É muita ousadia. Uma ação muito planejada, por tudo que me foi relatado”, afirmou o governador.

Em entrevista em Praia Grande, Artur Dian acrescentou que o carro suspeito de ter sido usado na execução de Fontes foi encontrado incendiado a aproximadamente dois quilômetros do local do crime.

Segundo ele, outro automóvel também foi localizado com carregadores de fuzil e munições. Até a última atualização desta reportagem, a perícia estava sendo realizada neste segundo carro.

“Estamos em fase de perícia, localizamos um veículo agora, mas nada pode ser descartado. Todas as linhas vão ser checadas”, afirmou o delegado.

Os dois carros usados pelos criminosos tinham sido roubados na cidade de São Paulo, segundo informações do boletim de ocorrência.

5 – Dois suspeitos foram identificados

O secretário da Segurança Pública de SP, Guilherme Derrite (PL) — Foto: Pablo Jacob/GESP
O secretário da Segurança Pública de SP, Guilherme Derrite (PL) — Foto: Pablo Jacob/GESP

A polícia de São Paulo identificou dois suspeitos da execução do delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz Fontes, segundo o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite.

Segundo o secretário, os criminosos não conseguiram atear fogo em um segundo veículo utilizado no crime, um Renegade, e a Polícia Técnico-Científica conseguiu coletar material para identificação dos envolvidos.

“Todos que participaram desse atentado terrorista, porque é isso que aconteceu contra o doutor Ruy, serão punidos severamente por isso”, afirmou o secretário.

Fonte: G1.Globo.

Foto: O Globo

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