Elon Musk lamenta publicações sobre Trump e admite que ‘foram longe demais’
Rompimento público entre o homem mais rico do mundo e o presidente dos Estados Unidos abriu uma fratura entre aliados republicanos
Em um recuo após mais de uma semana de um espalhafatoso embate público, o homem mais rico do mundo, Elon Musk, afirmou nesta quarta-feira que se arrependeu de algumas publicações feitas contra o presidente dos EUA, Donald Trump. O bilionário reconheceu que suas palavras “foram longe demais”, e demonstrou arrependimento pelo tom das críticas — que incluíram uma insinuação de que Trump teria algum tipo de participação no esquema criminoso de Jeffrey Epstein, milionário que se matou na cadeia em 2019 enquanto era acusado de um esquema de tráfico sexual de menores de idade.
“Lamento algumas das minhas publicações sobre o presidente Donald Trump na semana passada. Elas foram longe demais”, disse Musk em uma publicação na rede social X, marcando a conta pessoal do presidente americano, mas sem explicar quais críticas exatamente foram “longe demais”.
Há duas semanas, Musk ainda era um conselheiro próximo e parte ativa do governo Trump, dirigindo o Departamento de Eficiência Governamental (Doge), uma força-tarefa com a missão de reduzir gastos da administração federal criado especialmente para ele pelo presidente. Os primeiros sinais públicos de mudança na relação vieram na última semana de maio, quando o bilionário criticou publicamente o plano orçamentário de Trump, aprovado na Câmara, que prevê um aumento do déficit americano.
Pouco depois, Musk anunciou que estava de saída do governo, e em seu último ato, voltou a criticar o plano orçamentário. Em meio aos comentários sobre um rompimento pouco amigável entre dois dos homens mais poderosos do mundo, eles apareceram juntos em uma coletiva de imprensa na Casa Branca no dia 30 de maio, que envolveram alguns atos encenados, como a entrega de uma “chave de ouro” ao bilionário, e troca de declarações em que prometiam manter um contato próximo e colaborações no que diz respeito ao Doge e ao governo.
As promessas duraram pouco. Na semana seguinte (quinta-feira da semana passada), Musk e Trump se envolveram em um embate público espalhafatoso, em que a relação que se estreitou na eleição do ano passado — ao custo de um financiamento de campanha de cerca de US$ 275 milhões (R$ 1,5 bilhão no câmbio atual) — rompeu-se com contornos espetaculosos e troca de acusações.
Em uma coletiva de imprensa no Salão Oval da Casa Branca, Trump se queixou das críticas de Musk sobre seu projeto de gastos, afirmando ter ficado decepcionado e que não sabia como a relação dos dois ficaria dali em diante. O presidente também se antecipou, e disse que embora o magnata não tivesse falado mal dele “pessoalmente”, tinha certeza que aquele seria “o próximo passo”.
Não demorou para Musk responder. Em uma publicação na rede social X (da qual é dono e tem mais de 220 milhões de seguidores), o bilionário acusou Trump de ingratidão, dizendo que ele teria perdido as eleições sem sua ajuda.
A réplica do republicano também veio via redes sociais, quando disse que o ex-aliado tinha “perdido a cabeça” depois que ele havia dito que retiraria incentivos fiscais que beneficiavam a Tesla, empresa de carros elétricos de Musk. Também ameaçou de quebrar contratos de suas empresas com o governo americano. O bilionário então dobrou a aposta: disse que ele mesmo encerraria o programa de veículos espaciais Dragon, utilizado pela Nasa, e posteriormente acusou, sem provas, que Trump estaria citado nos arquivos do caso do criminoso sexual Jeffrey Epstein.
O rompimento abriu uma cisma entre aliados republicanos, alguns que veem em Trump e Musk uma aliança importante para manter o controle político, e outros que tinham ressalvas com o espaço dado ao bilionário no governo. O presidente da Câmara, Mike Johnson, foi um dos que saiu em público para pedir contenção dos dois lados — assim como o multimilionário Bill Ackman, um outro apoiador com entrada em Wall Street que fez campanha para Trump.
Por outro lado, o estrategista Steve Bannon usou de uma retórica ainda mais conflitiva, sugerindo que o presidente investigasse o status legal de Musk, que é sul-africano, no país, o deportasse, e abrisse também uma apuração sobre o suposto uso de drogas pelo magnata.
Enquanto isso, Trump e Musk não deram sinais de contenção. O bilionário chegou sugerir que era chegada a hora de criar um novo partido nos EUA, lançando uma enquete entre os seus seguidores nas redes sociais. Trump, em entrevistas a veículos de comunicação, continuou a se referir ao empresário como “o homem que perdeu a cabeça” e o ameaçou de “consequências gravíssimas” se ele passasse a financiar democratas que se opõem ao plano orçamentário que segue para o Senado.
Musk já havia dado breves sinais de contenção. No final de semana, ele apagou a publicação em que acusava Trump de ter uma relação com Epstein — na postagem, o bilionário havia afirmado que o motivo para os arquivos não terem se tornado públicos era o fato do presidente estar citado de forma comprometedora (já se sabe que Trump aparece nos documentos e que os dois conviveram em ambientes na Flórida e em Nova York, mas não existe nenhum indício de que ele colaborou com qualquer crime imputado a Epstein).
Trump detém um vasto poder político sobre Musk. As empresas do bilionário, especialmente Tesla, de veículos elétricos e autônimos, e SpaceX, de tecnologia espacial, receberam bilhões de dólares em contratos federais nos últimos anos. Enquanto os dois discutiam online na semana passada, Trump ameaçou cortá-los como forma de “economizar dinheiro” no orçamento federal.
As empresas de Musk receberam a promessa de US$ 3 bilhões (R$ 16,7 bilhões no câmbio atual) em contratos com 17 agências federais somente em 2023. (Com AFP e NYT).
Fonte: O Globo.com.