Estados processam Trump por decreto que retira a cidadania dos EUA de filhos de imigrantes ilegais
Medida de Trump sobre cidadania gera reação e preocupação
No primeiro dia de sua administração, o presidente Donald Trump anunciou uma medida que impede que futuras crianças nascidas de pais sem documentos sejam reconhecidas como cidadãs dos Estados Unidos. A ordem também se aplica a filhos de mães que estão no país legalmente, mas de maneira temporária, como turistas ou estudantes internacionais.
Mais de 20 estados, incluindo Califórnia, Nova Jersey e Massachusetts, entraram com ações judiciais argumentando que o decreto é inconstitucional. A 14ª Emenda, em vigor há mais de um século e meio, assegura a cidadania automática a pessoas nascidas ou naturalizadas no território americano, sendo esta interpretação reafirmada pela Suprema Corte em várias ocasiões.
A advogada de imigração Gabrielle Oliveira, professora da Universidade de Harvard, acredita que o governo tentará reinterpretar a 14ª Emenda, argumentando que imigrantes ilegais são invasores e, portanto, não estão sujeitos à jurisdição dos Estados Unidos. Em entrevista à TV Globo, Gabrielle destacou:
“Ao tratar essas pessoas como invasores hostis, o governo pode apresentar a ideia de que elas não estão sob jurisdição americana, o que abriria caminho para uma nova interpretação judicial.”
Além de revogar a cidadania para filhos de imigrantes ilegais, Trump também prometeu realizar a maior operação de deportação já registrada. Durante seu primeiro mandato, aproximadamente 935 mil imigrantes ilegais foram deportados, um número significativamente maior do que o registrado no governo de Joe Biden, que deportou 545 mil pessoas. Entre os deportados durante a administração Trump, quase 7 mil eram brasileiros.
Impacto na comunidade brasileira e reações internacionais
A medida tem gerado apreensão entre os cerca de 230 mil brasileiros que vivem ilegalmente nos EUA. Muitos já estão se mudando dentro do país em busca de estados com legislações mais favoráveis à regularização. Glendha Leal, que reside na Geórgia com o green card, relatou casos de amigos que mudaram para Massachusetts devido às leis estaduais mais acessíveis para obtenção do green card.
“Uma amiga minha mudou com toda a família para Boston porque lá as leis são mais favoráveis para regularização. Ela viu uma oportunidade através do namorado, que se enquadrava em critérios específicos, e decidiu tentar legalizar toda a família.”
Por outro lado, brasileiros com status legal, como estudantes, também enfrentam incertezas. Natalia Catela, que vive na Califórnia com visto de estudante, compartilhou seu receio de continuar os estudos.
“Estou com medo de trocar meu visto para um mestrado. Por enquanto, prefiro evitar qualquer mudança, já que não sei se meu pedido pode ser negado.”
Enquanto isso, o governo do México, liderado pela presidente Claudia Sheinbaum, prometeu um tratamento humanitário aos imigrantes, ao mesmo tempo em que reforçou seu compromisso de repatriar estrangeiros ilegais. Sheinbaum afirmou buscar diálogo com os EUA, mantendo, porém, a soberania do México.
Bispa pede compaixão; Trump rebate
Em um evento na Catedral de Washington, a bispa Mariann Edgar Budde apelou ao presidente para mostrar misericórdia e empatia com imigrantes e minorias LGBTQIA+. Durante seu discurso, a líder religiosa lembrou o impacto das políticas do presidente, especialmente sobre crianças e trabalhadores imigrantes.
“Milhões confiaram em você. Peço que tenha compaixão com os que estão com medo: crianças LGBTQIA+, famílias de imigrantes que trabalham arduamente e vivem em incerteza. A maioria dessas pessoas não é criminosa.”
Trump respondeu de forma contundente, classificando a fala da bispa como “desagradável” e “esquerdista radical”. Em sua rede social, o presidente declarou:
“A bispa que falou no Serviço Nacional de Oração é uma esquerdista radical que odeia Trump. Sua declaração foi desagradável, sem inteligência ou impacto. Ela e sua igreja devem desculpas ao público.”
Editorial Caldas Noticias.
