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Odysseus se torna primeira nave privada a pousar na Lua

Após uma jornada de quase oito dias, o módulo Odysseus, da empresa Intuitive Machines, de Houston, no Texas, tornou-se o primeiro veículo privado a realizar um pouso suave na Lua. Até agora apenas agências espaciais haviam tido sucesso, e somente as de cinco países: Rússia (então como União Soviética), Estados Unidos, China, Índia e Japão.

A façanha também marca a primeira alunissagem americana desde a missão tripulada Apollo 17, em dezembro de 1972. Além disso, o pouso foi o mais próximo do polo sul lunar já feito, batendo a marca da missão indiana Chandrayaan-3, que no ano passado desceu a uma latitude de 78 graus ao sul. O Odysseus mirou a cratera Malapert A, a apenas 300 km do polo sul.

Há grande ambição na exploração dessa região da Lua, por causa da detecção de água no interior de crateras onde a luz solar nunca alcança. Por sinal, o alvo da IM-1 é muito próximo a um dos potenciais sítios de pouso da missão tripulada Artemis 3, com a qual os americanos esperam retomar a exploração da Lua com astronautas ainda nesta década. Da mesma maneira, chineses têm planos para iniciar voos tripulados lunares até o fim da década e estabelecer uma base no polo sul.

O resultado bem-sucedido valoriza a aposta da Nasa, agência espacial americana, que decidiu implementar um programa de exploração lunar contratando transporte de empresas privadas. O Odysseus, módulo da classe Nova-C, desenvolvido pela Intuitive Machines, transportou à superfície lunar seis instrumentos da agência, a um custo de US$ 118 milhões.

Os instrumentos da Nasa são compostos de um sistema de rádio que vai medir fontes astronômicas e o ambiente de plasma na exosfera lunar (a ultratênue, praticamente nula, atmosfera do satélite), um retrorrefletor (instrumento passivo para medição de distância à Lua com laser), um dispositivo para medir velocidade e distância do solo, uma câmera estéreo para observar efeitos da pluma do propulsor sobre o solo na alunissagem, um retransmissor de rádio para localização e um medidor de combustível disponível.

Também estão embarcadas cargas despachadas por entes privados, que vão de coberturas térmicas a esculturas, passando por uma câmera para ser ejetada e fotografar o pouso em perspectiva.

A missão foi iniciada na madrugada do dia 15 de fevereiro, com o lançamento do foguete Falcon 9, da SpaceX, impulsionando o Odysseus em uma trajetória translunar. O objetivo era chegar rápido à Lua em razão de uma inovação do projeto: o uso de um motor movido a metano e oxigênio criogênicos. Ele garante maior potência pela quantidade de combustível disponível, mas também traz o risco do fenômeno conhecido como “boil-off”, em que os propelentes gradualmente evaporam e escapam dos tanques, que se esvaziam mais depressa.

A julgar pelos relatos diários da Intuitive Machines, o desempenho foi impecável. À parte uma pequena demora para resfriar as linhas de injeção de oxigênio líquido no espaço, em comparação com o desempenho na Terra, as manobras de comissionamento do motor foram muito bem. O primeiro disparo dele no espaço ocorreu na última sexta (16), testando tanto sua força total como um empuxo reduzido, que seria necessário ao pouso lunar.

No domingo (18) e na terça (20), duas manobras de correção de trajetória foram realizadas, com tamanha precisão que dispensaram a realização de uma terceira prevista. Na quarta-feira (21), um grande desafio foi superado, com a queima que permitiu a inserção orbital lunar. O Odysseus se estabeleceu então numa trajetória circular em torno da Lua com altitude de 92 km. O pouso originalmente se daria às 19h49. Depois foi antecipado para 18h24, mas então os controladores decidiram dar mais uma volta em torno da Lua, mirando um pouso às 20h24 desta quinta (22).

OUTRAS TRÊS MISSÕES PRIVADAS TENTARAM POUSAR NA LUA

SpaceIL (Israel) – 2019

A sonda israelense teve uma falha a poucos metros da superfície Lunar, o que representou o fracasso da missão

ispace (Japão) – 2023

Mais uma vez, uma falha a poucos metros da superfície lunar representou o fim da missão

Astrobotic (EUA) – 2024

Uma ruptura do tanque de combustível não permitiu nem mesmo a chegada à Lua; o fim foi um mergulho no oceano Pacífico

A órbita adicional foi para resolver um problema com o sistema que mede a distância ao solo, que se mostrou não funcional. Um dos equipamentos embarcados da Nasa foi utilizado em seu lugar, e o pouso aconteceu, mas acompanhado por perda de comunicação. Enfim, após alguns minutos, o sinal foi detectado da superfície indicando a alunissagem bem-sucedida.

Com o tamanho de uma tradicional cabine telefônica britânica e 675 kg, o Odysseus deve operar seus instrumentos em solo lunar por cerca de uma semana, antes de encerrar a missão. Com isso, a Intuitive Machines inaugura a era de exploração comercial da Lua, após três outras tentativas malogradas, pelo grupo SpaceIL (Israel), em 2019, e pelas empresas ispace (Japão), em 2023, e Astrobotic (EUA), em 2024. Fora a SpaceIL, todas as demais pretendem fazer novos voos à Lua ainda neste ano.

Folha de São Paulo

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