Mpox: OMS declara emergência internacional de saúde
Decisão foi tomada após a recomendação do Comitê de Emergência, que se reuniu pela primeira vez nesta manhã
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, declarou a mpox como uma emergência de saúde pública de importância internacional (ESPII), o mais alto nível de alerta da organização. A decisão foi tomada após a recomendação do Comitê de Emergência, que se reuniu pela primeira vez nesta manhã.
“Hoje, o Comitê de Emergência se reuniu e me informou que, em sua opinião, a situação constitui uma emergência de saúde pública de interesse internacional. Aceitei esse conselho”, disse o diretor-geral em coletiva de imprensa nesta tarde.
“A detecção e rápida disseminação de um novo clado da mpox no Leste da República Democrática do Congo (RDC) , sua detecção em países vizinhos que não haviam relatado mpox anteriormente e o potencial de disseminação adicional dentro e fora da África são muito preocupantes”, completou.
A ESPII é definida pela OMS como “um evento extraordinário que é determinado como um risco à saúde pública de outros países por meio da disseminação internacional de doenças e que potencialmente exige uma resposta internacional coordenada”. Essa classificação indica que a situação é grave, inesperada e traz implicações significativas para a saúde pública além das fronteiras nacionais, possivelmente necessitando de uma ação internacional imediata.
Embora os casos globais de mpox tenham diminuído desde o surto de dois anos atrás, a doença continua a circular, especialmente em regiões onde já era endêmica, como na República Democrática do Congo (RDC). No país, as infecções aumentaram drasticamente, atingindo mais de 14 mil casos e 524 mortes em 2024, impulsionadas por uma nova linhagem do vírus.
Uma preocupação crescente é que a cepa atualmente em circulação não é a mesma do surto de 2022. O vírus mpox possui duas linhagens principais, Clado 1 e Clado 2. O Clado 2, mais brando, foi responsável pela disseminação global em 2022, em parte devido à sua capacidade de transmissão sexual.
Contudo, no final do ano passado, cientistas identificaram uma nova versão do Clado 1, chamada Clado 1b, cuja letalidade é até 10 vezes maior que a do Clado 2. Esta nova linhagem também se espalha através de contato sexual e é a principal responsável pelo aumento de casos na RDC. Em 2024, o número de infecções no país já iguala o total registrado em todo o ano anterior.
Além disso, 90 casos de mpox foram relatados em quatro países vizinhos que não haviam registrado a doença anteriormente: Burundi, Quênia, Ruanda e Uganda, todos afetados pela nova cepa. Na última semana, o diretor-geral da OMS convocou o Comitê de Emergência para avaliar a situação e orientar sobre a necessidade de declarar o nível mais alto de alerta.
“O surgimento no ano passado e a rápida disseminação do clado 1b na RDC, que parece estar se espalhando principalmente por meio de redes sexuais, e sua detecção em países vizinhos à RDC são especialmente preocupantes e um dos principais motivos da minha decisão de convocar este Comitê de Emergência”, disse Tedros na abertura da reunião do grupo, que aconteceu de forma fechada e virtual nesta quarta-feira, 14.
O Clado 2, que causou a disseminação global em 2022, continua circulando em diversos países, embora em menor escala. No Brasil, por exemplo, foram confirmados 709 casos de mpox em 2024, segundo o Ministério da Saúde.
“Não estamos lidando com um surto de um clado, estamos lidando com vários surtos de diferentes clados em diferentes países, com diferentes modos de transmissão e diferentes níveis de risco”, destacou o diretor-geral da OMS nesta manhã.
O Comitê de Emergência contou com a participação de 16 especialistas, incluindo dois brasileiros: Clarissa Damaso, da UFRJ, e Eduardo Hage Carmo, da Fiocruz. Em nota, o Ministério da Saúde do Brasil disse nesta quarta-feira que “acompanha com atenção essa situação e analisa permanentemente as evidências científicas mais atuais sobre o tema em nível internacional, assim como o cenário epidemiológico no Brasil e no exterior, de forma a subsidiar as recomendações e ações necessárias no território brasileiro”.
A nova cepa do Clado 1 é especialmente preocupante devido à sua agressividade, segundo Fernando Spilki, virologista da Universidade Feevale e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Vigilância Genômica de Vírus. A taxa de mortalidade pode chegar a 4% entre adultos e 10% entre crianças na RDC.
De acordo com a OMS, 66% dos casos e 82% das mortes na RDC envolvem menores de 15 anos, com 73% das vítimas sendo homens. Spilki destaca a importância de os países se prepararem, considerando que a disponibilidade de vacinas, originalmente desenvolvidas para a varíola, oferece proteção contra a mpox.
No Brasil, uma das vacinas já está disponível no SUS para grupos de risco, como pessoas que vivem com HIV e com contagens baixas de células de defesa. Na última sexta-feira, a OMS convidou fabricantes a submeterem suas vacinas para aprovação de uso emergencial, o que poderia acelerar o acesso a imunizantes em países de baixa renda, facilitando a aquisição e distribuição por parceiros como Gavi e Unicef.
Fonte: Jornal Opção.